Preparo do papel

Pode-se utilizar qualquer papel de alta gramatura, ao menos acima de 250 g/m2, para servir de base. Como a técnica pode exigir raspagens de certa profundidade, um papel espesso dará conta de suportar as intervenções. Costumo usar o Cartão Supremo, que é branco e parece não ser muito ácido. O Papel Paraná também poderia se prestar bem, pois apesar da acidez excessiva, haverá um isolamento dado pelo tratamento que exponho adiante.

(É bom esclarecer que acidez é o que costuma causar transformações ao longo do tempo, portanto um papel ácido muda de cor, amarelecendo com o passar dos anos, e pode apresentar outras características físico-químicas causadoras de problemas, interferindo na tinta ou na capacidade de suportá-la. Até a integridade física do papel pode se deteriorar, havendo formações de bolhas ou escamações etc.)

A fim de proporcionar uma boa base para a raspagem, inicio então aplicando uma camada de gesso mais ou menos diluído em água, acrescido de tinta acrílica branca em proporção aproximada de 1/3 (uma parte de acrílico para 3 de gesso), mistura essa que não deve estar nem muito viscosa nem muito aquosa. O ideal é a textura parecida com a do creme de leite. Após a aplicação do creme, aliás, do gesso, distribuo morangos, aliás, distribuo o gesso com um rolinho de espuma, até que a secagem gradual do gesso, que vai acontecendo pouco a pouco, permita que o rolinho deixe a superfície bastante lisa. Quando isso acontece, cesso a atividade com o rolinho e deixo secar bem, lixando a seguir com lixa d’água para metais, bem fina (600) e depois reaplicando nova camada de gesso. Repito a operação várias vezes, cerca de 3 ou 4, sempre lixando bem entre as demãos, até que a superfície pareça estar bem lisa.

A lixadura deve ser muito cuidadosa e paciente, procurando-se eliminar ao máximo os orifícios oriundos das minúsculas bolhas, que sempre remanescem apesar da passagem do rolinho. Isso porque esses furinhos, apesar de pequeníssimos, conduzem a desvios da lâmina, podendo distorcer a uniformidade do traço ou causar "degrauzinhos" indesejáveis.

A seguir, aplico várias camadas espessas de tinta acrílica branca, também ligeiramente diluída, deixando secar bem e lixando entre as demãos. A distribuição da tinta novamente é feita com o rolinho. Pode-se usar também látex branco ou talvez (ainda não experimentei isso) base acrílica para telas ou artesanato. O importante é que seja um material plástico, cuja raspagem permita a retirada de finos filetes dessa base. Como a tinta nanquim (usada no Scraperboard mais tradicional) está aplicada sobre essa base plástica, os filetinhos raspados levam junto a tinta preta, fazendo assim com que surja o branco.

Logo é possível notar que os filetinhos saem enroladinhos como macarrão parafuso. É bom se soprar esses filetes longe a cada 2 ou 3 raspagens, pois a presença deles ali sobre o papel pode manchar partes brancas do trabalho, deixando tudo um pouco sujo e acinzentado. Na figura abaixo (clique para ampliar) se pode ver um estudo sendo realizado enquanto um dos filetes enrolados já sai logo abaixo e à direita da ponta da lâmina de raspar.