Uso do lápis correto

Minha primeira dúvida ao pensar em começar a desenhar foi: que lápis eu deveria usar e como deveria usar? Atualmente é muito frequente me pedirem explicações a esse respeito, o que demonstra como até mesmo as coisas mais simples podem suscitar muitas dúvidas quando não estamos familiarizados com aquele universo.


Hymenaea courbaril (Leguminosae) - "Jatobá"
Primeiro, é preciso entender as gradações do grafite e seus códigos. As letras H (do inglês "hard") dizem respeito a grafites mais duros. Por isso, há o lápis H e, à medida que os números crescem, para 2H, 3H e assim por diante, vai aumentando a dureza do grafite, que assim produzirá sombras cada vez mais claras. São lápis usados para sombreados mais suaves ou traços bem delineados quando bem apontados. Mas devem ser usados com cautela e mão leve, porque marcam e sulcam o papel devido à sua dureza. Se soubermos usá-los com suavidade, serão muito adequados para delinear os esboços de um desenho em papel definitivo. Também são estes os lápis mais apropriados para superfícies mais resistentes como paredes ou pedras.

As letras B (do inglês "black") dizem respeito a grafites mais macios e escuros. Da mesma forma, à medida que os números crescem, aumenta a maciez e portanto a capacidade de escurecimento do grafite. São lápis usados para as sombras mais escuras. O lápis HB tem amplo uso e se situa na gradação intermediária, nem muito duro nem muito macio.

É encontrada também a letra F (do inglês "Fine"), fazendo referência à ponta fina. São lápis indicados para contornos, usados bem apontados.

"Natureza Morta" - Estudo de folhas

Sabendo disso, o ideal é que cada um procure ver como se adapta melhor conforme o uso. Pessoalmente, para obter sombras lisas e homogêneas, utilizo primeiro os lápis mais duros (uso apenas do H para os mais macios), preenchendo com uma sombra bem clarinha o desenho todo de forma igual (chapada) excetuando a área de luz. Mesmo com o lápis H, alguns papéis agarram tão bem o grafite que é preciso ter a mão bem leve (para isso é bom segurar no meio do lápis e deixá-lo cair com o proprio peso, sem impor o peso da mão). Quando percebo que o grafite começa a não fazer muita diferença ou que estou começando a fazer força demais e marcando o papel, passo ao lápis mais macio. Recomeço o mesmo processo e vou passando aos grafites mais escuros até o fim, a cada nova camada mantendo o sombreamento mais distante da área de luz, assim determinando o degradê.

Para evitar as indesejáveis marcas de traços no sombreado (eventualmente indesejáveis, já que traços podem ser úteis em texturizações), mantenho o lápis sempre brandamente apontado. Isso significa apontar mas deixar ao menos um pouco arredondado na pontinha mais extrema, para que o lápis não sulque o papel e nem deixe marcas mais escuras aqui ou ali.













Nymphoides indica
(Menyanthaceae) - Flor longistila em corte
Ilustração para o Glossário do
Guia de Campo para Plantas Aquáticas
e Palustres do Estado de São Paulo

de Maria do Carmo E. do Amar
al et al.

As marcas que costumo usar são Staedtler, Cretacolor, Koh-I-Noor, mas costumo recomendar também Bruynzeel, Caran D'Ache, Mitsubishi ou Faber Castell 9000. Há o Derwent também, muito macio, mas senti que esfarela demais e deixa resíduos e pós sobre o papel que precisam ser removidos, soprados etc. Entretanto, todos que citei acima podem apresentar um ou outro defeito como cristais ou diferenças de gradação entre as marcas (Cretacolor HB parece um 2B da Koh-I-Noor antiga ou da Staedtler).  Fato é que os lápis estão sempre mudando e temos que experimentar e ter paciência de experimentar novamente, pois os antigamente ruins podem estar bons hoje e vice-versa. Um exemplo é o Faber 9000, que antigamente trazia o título Regent, e que eu contra-recomendava enfaticamente, mas hoje em dia está de boa qualidade (pelo menos alguns anos ou meses atrás...). Também o Koh-I-Noor, que antigamente era perfeito, de uns tempos pra cá passou a ter cristais. Muitas boas marcas de vez em quando apresentam cristais, isso pode ser comum. Não acho os cristais tão danosos à técnica, apenas um pouco irritantes, o que é pior é o grafite de má qualidade, que varia o tom na mesma mina. Não parece, mas um lápis pode fazer toda a diferença na obtenção de um resultado satisfatório. Até mesmo quem tem total domínio e muita prática pode sofrer com um lápis de má qualidade.
Caso sua sombra apresente pequenas manchinhas mais escuras, isso provavelmente não se deve ao grafite, se ele for de boa qualidade. Podem ser micro-resíduos de borracha. Por isso, procure limpar bem o papel antes de sombrear, se possível use um pincel macio para retirar, evite passar a mão ou soprar, pois os danos a longo prazo de nossa mão e das gotículas de saliva são terríveis. Manchas pequenas amarelas (provavelmente bacterianas), enrugamentos ou vincos etc.

Para retirar ou corrigir sombreado, usa-se o limpa-tipos (uma massinha antigamente usada para limpar os tipos de máquinas de escrever). As marcas que recomendo são Milan (o melhor), Design e Cretacolor. Não recomendo nenhuma das outras, mesmo as mais elegantes marcas importadas, podem ser terríveis e gordurosas.


Rhinella spp. (Bufonidae)

A massa deve ser usada com pequenas e leves batidas contra o desenho, de forma que ela arrancará o grafite, que grudará na massinha. Pode-se usar também friccionando (não como a borracha; passa-se a massa uma só vez e ela já retira muito grafite), mas é arriscado e melhor usar assim apenas em casos em que se quer retirar toda a sombra. Quando se sombreia novamente onde o limpa-tipos foi friccionado, podem surgir marcas por causa de resíduos. Isso não ocorre quando apenas batemos a massa no papel.

O limpa-tipos deixará marcas disformes se usarmos sem modelar, por isso procuro modelá-lo com a mão criando uma crista bem fininha e batendo essa crista no mesmo sentido do traço de grafite, assim é possível retirar o grafite traço por traço. Isso é excelente para pequenas correções de imperfeições. À medida que aquela região da crista da massinha fica saturada de grafite, é preciso remodelar a massinha, fazendo-se nova crista com massa limpa.